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desde miúda, momentos de afeto ficam guardados na minha memória.

como se fosse uma caixinha, que é compacta, pequenininha, mas que cabe um mundo inteiro.

um relicário.

que sorte a minha, ter conhecido o afeto tão cedo.

é, eu gosto muito de carinho.

mesmo que ele puxe uns fios.

que venha no embaraço e desembaraço.

e mesmo que às vezes sejam lembranças molhadas do choro de uma menininha que só não queria que puxassem seu cabelo.

e pra que puxar, tia, mamãe e papai?

assim dói!

quero usar solto!

porque a gente não alisa logo?

às vezes dói, mas é porque puxa...

na época, eu não entendia o motivo de tamanho desconforto.

era domingo, dia de brincar, mas porque a gente tinha que sentar e trançar sem parar?

hoje, as memórias continuam e a sensação segue reverberando neste corpo, agora adulto.

um novo significado surgiu, e depois de muito tempo guardando essas memórias, não dói mais onde puxa!

Um bom tempo se passou.

Os sapatos ficaram todos apertados e nenhuma roupa sobreviveu à ação dos anos.

O cabelo? 

Mudava conforme as fases da vida.

Já foi longo, curtinho, azul, verde e cor-de-rosa...

Já quis ser liso, sem volume, baixinho, que não chamasse atenção, que passasse despercebido pelos colegas de escola.

Porém, sempre foi volumoso, resistente e cheio de potência.

Era o mais forte dos escudos, porque nele carregava a história de muita gente.

Diferente dos sapatos e das roupas, ele permanece imerso em proteção. Numa metamorfose que acompanha todas as fases, as relembra, e compõe uma biblioteca de afetos que carrego comigo.

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